quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Crônica

Se for pedir, leve um panfleto!
Suellem Mendes

Outro dia me acorreu que a profissão mais velha do mundo não é nem de perto a de prostituta. Por que eu tô dizendo isso? Vamos relembrar um pouquinho da história. Você se lembra que há muitos anos, um casalzinho bem curioso foi expulso do Paraíso? É, é esse casal mesmo. Adão e Eva. Depois de serem expulsos do Éden e perder todas as mordomias, começaram então a primeira profissão do mundo: a de pedinte. Com a chegada dos filhos, eles os introduziram na arte desse ofício. Dizem até que Caim matou Abel porque este sempre conseguia mais esmolas que aquele.
Ahhhh! Vai me dizer que você não sabia? Pedir esmola na porta do Paraíso era a ultima moda naquele tempo. Afinal era lá que estavam as melhores comidas, bebidas, instalações. De lá pra cá, essa profissão veio se modernizando e cresceu tanto que são muitos os novos profissionais. O mercado, antes tão promissor, está completamente saturado, e você pode até escolher um ramo especializado. Tem muito mendigo por aí – essa classe subdivide-se em adultos, mães acompanhadas dos filhos pequenos. Tem também os vendedores – com produtos que variam de calcinhas e sutiãs com enchimento à guarda-chuvas e limpadores de pára-brisas – e etc.
Mas de uns tempos pra cá anda difícil de dirigir por aí sem esbarrar com esses personagens nos sinaleiros. Isso incomodou muita gente. A desculpa deles é que o figurino sujo e desgrenhado não está agradando, sabe como é, saiu de moda. E quando uma coisa sai de moda, não dá pra agüentar. É preciso reciclar não é minha gente. Imagine só? De jeito nenhum!
Ah, ainda tem a categoria dos panfleteiros. Mas com esses, se você mexer, compra briga. Não vai pensando que vai ser fácil colocar esse último grupo de escanteio, afinal ele dá um lucro danado. Mesmo que sujem as ruas e corram o risco de serem atropelados e de contrair câncer de pele de brinde. Não! Ninguém mexe com os panfleteiros. Senão vai ter que enfrentar a máfia. Sim, tem máfia e tudo. O ramo é o mais bem amparado. Associação, sindicato. E esse foi o erro dos demais. Não tem quem olhe por eles mesmo, se mandar embora ninguém vai protestar. Por isso, a moda agora é que pedir não pode. Distribuir panfleto é outra estória! Então pra resolver isso de vez: se for pedir, leve seu panfleto!

Ainda há muito a fazer!

Suellem Mendes

O Brasil é sempre citado como um dos países emergentes mais promissores do mundo, porém, o que o afasta cada vez mais de ser um país economicamente estável, com maior igualdade de rendas e integração social, é o constante desleixo com um dos alicerces básicos do desenvolvimento de qualquer país: a educação.
Desde o ensino básico até o superior, as reclamações são muitas e a falta de estrutura dentro e fora das salas de aula, a escassez de investimentos e professores mal formados são problemas intrínsecos da educação no país, e esse é o maior fator contribuinte para as desigualdades sociais.
Amenizar as diferenças regionais, conseguir subterfúgios para o aumento de vagas, dar preferência ao desenvolvimento tecnológico e à inovação, a necessidade de expansão e atualização da pesquisa e elevação dos padrões de qualidade devem ser o foco principal e a maior preocupação das Instituições de Ensino Superior.
O acesso à universidade é um dos fatores que contribuem para a enxurrada de críticas. É necessário criação de cotas em universidades para que negros, índios e alunos de escolas públicas tenham acesso a algo que lhes é de direito, direito este garantido pela Constituição.
O que ocorre, hoje, nas universidades públicas é que os jovens que teoricamente teriam condições para custear um curso em instituições privadas, e que tiveram uma educação “superior” àqueles que sempre estudaram em escolas públicas, tiram a vaga dos que realmente precisam.
É vergonhoso pensar que para se buscar um futuro melhor através de um curso superior, as pessoas tenham que se submeter à discriminação e ao preconceito, porque a instalação da política de cotas nas universidades é obrigar os menos favorecidos a serem ainda mais marcados por esse preconceito.
Para que a realidade do Ensino Superior mude, é necessária intervenção radical na educação básica, que traga melhores condições aos estudantes que não podem pagar para serem alfabetizados e educados. Com condições iguais de desenvolvimento, não será necessário cotas e outros meios para nos ludibriar. Assim, o Brasil vai para frente. Mas ainda há muito a fazer!

Política em foco

Suellem Mendes e Pâmella Souza

Tentando convencer
O governo decidiu atrelar a proposta de regulamentação da Emenda 29, que fixa porcentuais mínimos de investimentos na Saúde, às negociações sobre a prorrogação da CPMF. A decisão foi tomada durante reunião do Conselho Político, realizada no Palácio do Planalto.
Não tem jeito mesmo! O governo insiste e faz de tudo para convencer a oposição a se render à CPMF. Agora vale até colocar a saúde no meio para o discurso ficar mais convincente. E ainda tem líder do governo no senado dizendo que “a estratégia é acalmar integrantes da base e da oposição”. Vai um chazinho de erva-doce aí?

Um é pouco, dois é bom, seis é demais!
A Mesa Diretora do Senado decidiu na última terça, 23, paralisar a representação apresentada pelo PSOL, na semana passada, contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e arquivou a denúncia. A cúpula do Senado resolveu que a sexta representação contra Renan só será remetida ao Conselho de Ética, após a conclusão dos outros quatro processos que tramitam contra o alagoano no órgão disciplinar. E a pergunta não quer calar: não seria este mais um dos pretextos usados para deixar Renan no Plenário e, por conseguinte adquirir os votos para a CPMF? Enquanto isso a revolta do povo continua.

Circo no Senado
A falta de regras que permitiu várias manobras em favor do presidente licenciado do Senado, resultou em um regulamento para o Conselho de Ética. O projeto, que já foi aprovado, é da senadora Lúcia Vânia e impõe o voto aberto no julgamento de parlamentares, define prazo para tramitação das representações, torna obrigatório o sorteio para escolha dos relatores e prevê o afastamento do membro do conselho que vier a responder a denúncia por quebra de decoro parlamentar. É o popular cobra engolindo cobra do senado. Às vezes, as ações vêm disfarçadas de benefícios, fazendo a mágica de ludibriar a população. Acredita quem quiser!

E o circo continua...
Para completar o circo, Luis Inácio Lula da Silva anunciou numa reunião, que a carga tributária não deve cair em curto prazo. O discurso convenceu alguns empresários, que reconheceram esta carga tributária ainda é necessária. Mas o discurso do governo não convenceu a todos. Teve empresário que reivindicou provocando alvoroço no governo.
É a arrecadação de impostos servindo de muleta para a continuidade dos programas sociais.

Afinal, o mandato é de quem?
O Tribunal Superior Eleitoral vota hoje os processos contra políticos infiéis, o que deve anular os acordos firmados entre os partidos governistas no Congresso e colocar os mandatos de dez deputados na berlinda. As legendas da base acertaram que não pediriam ao TSE o mandato do parlamentar que migrou de um partido para outro aliado. Ainda assim, os políticos transeuntes ainda correm o risco de ficar a ver navios. É que o STF determinará, na resolução, que qualquer interessado, suplente ou outro partido político, poderá acionar o tribunal para reclamar o mandato do infiel.

A culpa é de quem pariu!
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, propõe a legalização do aborto como forma de conter a violência no Rio de Janeiro. “A questão da interrupção da gravidez tem tudo a ver com a violência pública. Quem diz isso não sou eu, são os autores do livro "Freakonomics" (Steven Levitt e Stephen J. Dubner). Eles mostram que a redução da violência nos EUA na década de 90 está intrinsecamente ligada à legalização do aborto em 1975 pela suprema corte americana”. Falar que o aborto é a solução para conter a violência é provar o quanto o governo é negligente com as questões de segurança, além de provar a falta de planejamento e competência governamental.

Maria vai com as outras
O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), admitiu na última quarta, 24, que só coloca na pauta do plenário a proposta que garante maior transparência para os gastos dos senadores, se houver apoio da maioria dos partidos da Casa. A idéia de Tião Viana, rejeitada também pela maioria da Mesa Diretora, serviria para a divulgação dos gastos mensais dos parlamentares com a chamada verba indenizatória. Cada senador recebe por mês R$ 15 mil para a cobertura de gastos nos Estados. A Câmara adotou a divulgação dos números, mas é pouco provável que a idéia seja aceita, quanto menos votada, pois se houver a divulgação dos gastos, o Senado se privará de uma série de regalias que os deixariam com mais descrédito perante a população.

Ambiente de Luxo
O PSOL protocolou nesta quinta-feira (25) na Secretaria Geral da Câmara uma proposta que amplia o número dos apartamentos funcionais da Casa e reduz o tamanho de cada moradia. Conforme antecipou o G1, os apartamentos funcionais para uso dos deputados federais serão reformados e ganharão itens como banheiras de hidromassagem e triturador de alimentos. Passarão por obras a partir do fim deste ano, 96 imóveis, com o custo estimado de R$ 36,2 milhões, segundo a Câmara dos Deputados.
O governo gasta dinheiro com futilidades em detrimento da melhoria das condições básicas de vida da população. Educação e saúde continuam em decadência e aqueles que não têm sequer onde morar, continuam hospedados em pontes e viadutos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Luis Fernando Verissimo


“Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe”. É assim que Luis Fernando Verissimo começa mais uma de suas famosas crônicas, onde seu fino e irônico humor pode ser apreciado. Filho do também escritor Érico Verissimo, este não lhe fica à sombra. Além da literatura, suas outras paixões são a família, o jazz e o Internacional, de Porto Alegre. Mesmo percebendo seu talento para escrever bem cedo, ele ainda se aventurou em outros campos antes de se deixar seduzir pela arte literária. É jornalista, publicitário, humorista, cronista, cartunista e tradutor. Capaz de traduzir a alma como ninguém, ele trata dos mais diversos temas. Gastronomia, economia, futebol, cinema, viagens, música, literatura, tem lugar garantido em seu trabalho. Namoro, casamento, sexo, infidelidades, choque das gerações, são pratos cheios para o escritor. Personagens como o Analista de Bagé, Ed Mort, a Velhinha de Taubaté e as Cobras são conhecidos ilustres de seus leitores. Mas nem pense em escrever seu nome com acento nos “is”, alguns de seus leitores podem ficar extremamente chateados. E quem quiser conferir esse talento, os livros Clube dos Anjos – Gula e O Jardim do Diabo são uma boa pedida. Boa leitura e divirta-se.

sábado, 29 de setembro de 2007

O poeta amado!*

Suellem Mendes

Jorge Amado, baiano arretado, é um dos mais famosos escritores brasileiros de todos os tempos. Em mil novecentos e noventa e quatro recebeu o Prêmio Camões, nobel da língua portuguesa. É o autor com maior número de obras adaptadas para a TV, cinema e teatro. Seus livros foram traduzidos em cinquenta e cinco países, quarenta e nove idiomas, existindo até exemplares em braille e material gravado em áudio para cegos. Como Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz, é representante do modernismo regionalista. Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em mil novecentos e sessenta e um. Algumas de suas obras mais famosas são: Capitães de Areia, Gabriela Cravo e Canela, Dona Flor e seus Dois Maridos, Tieta do Agreste e Tocaia Grande. Na primeira fase de suas obras escreveu injustiças sociais usando conteúdo político. na segunda fase, marcada pela publicação de Gabriela Cravo e Canela, descreveu seu povo e sua terra – comidas, costumes, o candomblé, do qual era adepto, os terreiros e a capoeira. Aos oitenta e quatro anos resumindo sua trajetória disse: “A vida me deu mais do que pedi e mereci. Não me falta nada. Tenho zélia e isso me basta”. Por tudo isso, é um autor que merece ser lido!

* Texto que escrevi para o programa de rádio da faculdade - Livro Aberto (programete semanal de Literatura)

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Casa Vazia e dinheiro no bolso

A falta de compromisso de nossos parlamentares tem chocado a sociedade brasileira. E a recente constatação da ausência da maioria dos deputados durante o expediente no plenário tem nos deixado ainda mais indignados. Além de serem pagos pelo bolso do cidadão brasileiro, as baixas freqüências tem causado vários problemas que se refletem diretamente na sociedade.
São requerimentos acumulados, projetos de lei que ficam engavetados e projetos polêmicos votados sem a devida discussão pelos poucos presentes. Mas o pior é que, intimidados com a presença da mídia, eles tentam nos ludibriar com desculpas esfarrapadas e álibis como formaturas, velórios, gripes, etc. Essas faltas acontecem nas sessões ordinárias que são previstas em seus salários, mas nas sessões extraordinárias, para as quais recebem gratificação extra, o plenário transborda. Afinal, o dinheiro “extra” é sempre bem vindo.
Como se não bastasse, esse comportamento é incentivado também pelo Regimento Interno, que prevê abono de falta em plenário para cada presença em comissão. É uma falta de respeito a qualquer servidor, seja ele de instituições públicas ou privadas. Saber que apesar das faltas, os parlamentares continuam recebendo normalmente, enquanto ele tem as suas descontadas no final do mês é motivo de revolta.
A maior indignação do povo brasileiro é saber que não tem a quem recorrer, uma vez que a Assembléia, órgão que deveria ser o fiscalizador, deixa a desejar. Mas nem tudo está perdido, já que alguns deputados são assíduos e cobram dos demais. Uma das soluções seria passar a descontar de cada um, as idas às formaturas, casamentos e velórios. Pois deveriam estar no plenário fazendo o que são pagos para fazer: representar os interesses do cidadão brasileiro.

Suellem Mendes e Pâmella Souza